A Caridade

Caridoso todo mundo pode ser em qualquer parte do planeta, mas aqui na Finlândia pelo menos tem algumas regras a serem seguidas quando envolvem instituicões governamentais ou privadas. Há mais ou menos 2 anos eu faco um trabalho voluntário que é de visita em um asilo. Como eu não sabia como eu poderia comecar um trabalho voluntário aqui, eu busquei a igreja, que muito modernamente tem esse site de voluntariado que basicamente funciona assim, a pessoa clica na cidade onde quer fazer o trabalho, e lá tem um quadro de atividades ( asilos, passeios, ler história, enfim...), depois que a pessoa escolheu o que quer e pode fazer, ela preenche um formulário, envia e é chamada para uma entrevista. Como eu fui pessoalmente no escritório da igreja, eu preenchi o formulário e em seguida fui chamada para uma entrevista. Em nenhum momento me perguntaram qual era minha religião, mas perguntas básicas como onde moro, com quem, se trabalho, o porque de querer ajudar alguém e etc... Depois de ver 2 velhinhos morrerem dei um tempo!! E minha vida apertou também. Bom, fato é que agora no natal eu coletei alguns brinquedos da Julia e de amigas dela e a Michelle gentilmente fez cup cakes para as criancas, a idéia era encontrar com as criancas e fazer uma farra.Mas qual não foi minha surpresa, ao escutar da assistente social que o contato com as criancas não era permitido.
Minha primeira reacão foi de ....."hã??? Como assim???". Pois eu queria entregar os presentes, falar com elas e etc...Mas depois eu pensei, quando queremos ajudar, nós simplesmente ajudamos, mesmo eu não vendo, com certeza elas ficariam bem felizes em receber doces e presentes. Mas por curiosidade eu perguntei a razão dessa regra ( que na verdade é uma lei). Na verdade nos orfanatos tem tanto criancas sem pai nem mãe quando criancas e jovens com problemas em casa ( pai ou mãe alcoolatra ou violencia doméstica). Há alguns anos atrás as pessoas iam nos orfanatos espalhavam para a cidade inteira, que o filho do vizinho estava em um orfanato de uma forma bem maldosa ( e para quem não sabe, as cidades na Finlândia são verdadeiras vilas.) o que acabavam gerando outros problemas, pois muitos pais se recuperavam, voltavam para casa, mas ficava aquela coisa estranha dos vizinhos olhando, falando e etc...
Então agora é assim, funcionários fazem um voto de sigilo e sem visitas casuais.E tem uma outra questão, a questão das pessoas que iam lá quando tinham aquela crise de se sentirem egoistas, sentirem que precisam fazer alguma coisa por alguém, brincar com as criancas e NUNCA mais aparecer. Aí ficavam lá as criancas cheias de mais traumas ainda gerando mais terapia e gastos para o governo.
 Então caso alguém queira REALMENTE AJUDAR,tem que seguir as regras:

1. Se inscrever no programa de pais voluntários ( que pode ser de qualquer tipo, semanal, mensal, anual, final de semana)
2. Fazer uma entrevista com psicologos e assistentes sociais
3. Ser aprovado e somente depois disso.....

Pode se "responsabilizar" por uma crianca, ou irmãos. Posso cuidar deles como eu achar melhor, finais de semana, enfim..eu faco os horários.Mas se decidir que eles venham morar comigo temporariamente eu receberei do governo uma ajuda por crianca para as despesas delas, nada grandioso, uma grana para ajudar na comida basicamente.

Por isso as familias ( ou as pessoas solteiras, incluindo gays) säo analizadas meticulosamente e geralemnte são pessoas engajadas. Aqui na Finlândia, ninguém brinca de ser bonzinho. Ou tá afim ou não tá. E tudo de uma forma bem organizada pelo governo.

Eu nunca me inscrevi em um programa como esse por um unico motivo: Ismo não dá conta e já deixou isso claro. Então, acho que continuarei ouvindo estórias da guerra na Finlândia em asilos. Se funciona? Sim funciona!! Fernanda tem uma amiga na sala dela que vive com uma familia temporaria enquanto o pai está em tratamento.Muitas mantém contato para a vida toda com as familias, outras voltam a serem felizes com os pais curados, enfim tem milhares de estórias que não cabe a mim contar :)